sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Pastores não são super-heróis ou, o mito da infalibilidade pastoral

SOMOS DE UMA CULTURA que ama ter e cultivar seus heróis. Creio que isso se deve à influência da cultura de massas que caracteriza nosso tempo resultante da hipervalorização da mídia. Os Estados Unidos protagonizam quase tudo o que se refere à indústria cultural. E também, fenômenos variados que são notícia recorrente em nosso tempo. Para nós cristãos evangélicos brasileiros, muitas coisas que acontecem lá repercutem fortemente aqui. Principalmente em assuntos que se reportam à Igreja de Jesus. É inegável a influência estadunidense. Até mesmo no tocante às muitas seitas pseudo-cristãs (Mormonismo, Testemunhas-de-Jeová, Ciência Cristã,  e mais recentemente, a Teologia da Prosperidade), bem como o fenômeno das mega-igrejas, todas são originárias da terra de Tio Sam.

POR ISSO É QUE estarrece, choca e assusta, a notícia que li nesta manhã em um determinado site de notícias cristãs acerca do suicídio de três pastores evangélicos norte-americanos. É isso mesmo que você acabou de ler. Três pastores se suicidaram. Deram cabo da própria existência. Se auto-extinguiram.

OS PASTORES são os seguintes: Teddy Parker Jr, 42 anos, da Igreja Batista Bibb Mount Zion, na Geórgia que tirou a própria vida com um tiro na cabeça,  Eddy Montgomery, da Assembleia Internacional do Evangelho Pleno, cometeu suicídio também com arma de fogo e isto na frente de sua mãe e de seu filho, sendo que este pastor estava de luto pela morte de sua esposa e Isaac Hunter, ex-pastor da igreja Summit em Orlando, Flórida, não se sabe ainda como teria cometido suicídio.

POR ESTA RAZÃO é que iniciei este texto argumentando sobre ter e cultivar heróis próprio de nossa cultura massificada. Os heróis em questão seriam os pastores. Por que afirmo isto? Porque certamente eles deveriam sofrer tensões de todo tipo, principalmente aquela em que acreditavam de que deveriam passar a imagem de inatingíveis pelos problemas do comum dos mortais, de homens de Deus que pairam vitoriosamente acima de toda a problemática existencial humana, seriam eles os que teriam as soluções perfeitas para todo e qualquer desajuste na vida das ovelhas de sua igreja ou de qualquer pessoa que lhes pedissem ajuda. Ora, certamente que, pastorear ou ministrar para preencher as expectativas das pessoas é algo humanamente insustentável. Mas eles devem ter prosseguido, não atentando para suas próprias e inegáveis fragilidades e entrando de corpo e alma no jogo do Inimigo de usar algo excelente e estabelecido por Deus como o ministério pastoral (1Tm 3.1-7) para derrubar aqueles que foram capacitados pelo Senhor para conduzir a Seu rebanho.

OS PROBLEMAS HUMANOS são muitas das vezes, complexos em sua essência. Ninguém consegue carregar o fardo de situações-limite em sua própria vida: morte em família, acidentes graves, separações conjugais, desemprego, etc. Para isso, o pastor deve ter a consciência de que deveria idealmente, ter alguém a quem prestar contas regularmente. Poderia ser outro pastor, quem sabe já jubilado de suas funções ministeriais, ou, algum outro que se notabilizasse por seu equilíbrio, sua profunda comunhão com Jesus, seus dons inegáveis  a serviço do Reino. 

NÃO TIVE ACESSO obviamente às particularidades de vida e ministério de cada um desses servos de Deus. Minha reflexão se baseia nas poucas observações ao redor. Não estou julgando aos mesmos pois, assim como eu mesmo, eles têm o mesmo Juiz competente e Todo-Poderoso para julgar as motivações do coração conforme Jr 17.10: "Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações." Os pastores não podem continuar, muitos deles, eu diria mais, inúmeros deles, a acharem que estão acima das situações que todo ser humano está sujeito, passando a imagem de que estão acima do bem e do mal, tendo conselhos prontos e respostas aceitáveis para toda indagação de quem deles precisarem. E quanto a eles, quantas indagações, quantas frustrações, quantas tentações têm rondado suas vidas e eles posando (e isto demonstra por si só sua inerente fraqueza) de super e infalíveis heróis?

EXISTEM MUITAS ESTATÍSTICAS e pesquisas acerca de como os pastores enfrentam problemas tais como depressão, esgotamento físico e mental e outros. O Instituto Schaeffer divulgou estudo em que se constatou que 70% dos pastores lutam continuamente com a depressão, 71% deles encontram-se esgotados emocional e fisicamente e, incluso está o fato de que 72% dos pastores afirmam que só se dedicam ao estudo das Escrituras apenas quando precisam preparar sermões, 80% acreditam que o ministério pastoral têm afetado negativamente suas vidas e famílias e 70% confessam não ter um amigo verdadeiro e sincero ao qual possam recorrer nos momentos críticos.   

DIANTE DESSES NÚMEROS estarrecedores, é preciso que se denuncie o mito da infalibilidade pastoral com toda veemência visando uma tomada de decisão destes servos de Deus para serem transparentes e sinceros consigo mesmos, com suas famílias, com suas congregações e, principalmente, com Aquele que lhes chamou e capacitou. 

CHARLES JEFFERSON em sua obra clássica The Minister as Shepherd alista as sete funções básicas de um pastor genuíno, são elas: 1- Amar as ovelhas; 2- Alimentar as ovelhas; 3- Resgatar as ovelhas; 4- Cuidar das ovelhas e consolá-las; 5- Guiar as ovelhas; 6- Guardar e proteger as ovelhas; 7- Vigiar as ovelhas. Todas elas são funções importantes em si mesmas, porém as duas últimas a guarda e a vigilância podem ter um peso maior de responsabilidade. A vigilância pastoral refere-se à guarda e proteção do rebanho do massacre espiritual que pode ser evitado, ou seja, perigos espirituais tais como pecado, falsos ensinos e falsos mestres. Esta é função de uma sentinela (Lc 2.8; At 20.28,29; 1Pe 5.2,3). O pastor verdadeiro vai priorizar ao máximo à segurança do rebanho de Cristo. Mas a pergunta inevitável é: Quem vai cuidar dos pastores? Se eles se esgotarem, apresentarem problemas vários, com quem poderão contar no Corpo de Cristo para ministrarem aos seus próprios problemas?

SÃO VÁRIAS AS RAZÕES que levam uma pessoa a cometer suicídio. Os pastores citados não estavam de forma alguma livres de problemas que afetam a todos nós. Infelizmente, não se sabe se em algum momento procuraram ajuda ou se preferiram internalizar seus próprios problemas de forma permanente e isto acabou arrastando-os ao ato extremo. Satanás obviamente trabalhou em todas estas situações cooperando para afundar os servos de Deus no desespero existencial. É notório que a Bíblia deixa clara a atividade demoníaca em nossas vidas, procurando brechas onde possa encastelar-se para dali desferir um ataque mortal (2Co 2.10,11; 1Pe 5.8) e temo de que foi precisamente isto que sucedeu com os três pastores. Em meio a situações de extremo stress, pressões do trabalho pastoral, expectativas a serem cumpridas, pressão por resultados, problemas conjugais ou outros, muitos pastores podem estar exatamente neste instante em meio a uma tempestade existencial no qual também poderão ser tragados. O que fazer diante disso?   

ACREDITO DE TODO CORAÇÃO que uma Igreja unida plenamente a seu Cabeça, Jesus Cristo, onde ocorre o seguinte: "Do qual corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor" (Ef 4.16), ou seja, o pastor também é parte do Corpo, e contribui para o aperfeiçoamento e edificação do mesmo (Ef 4.12), apesar disto, ele não está numa posição central e destacada como se não precisasse do auxílio dos outros, mas precisa ter o discernimento necessário para se aperceber de que a vontade de Deus é que no Corpo de Cristo, a Igreja, os membros cuidem uns dos outros e isto inclui sim o próprio pastor. Ainda na Epístola de Paulo aos Efésios, é dito que pastor é um dom ministerial (Ef 4.11). Não se está afirmando em lugar algum da Bíblia que seja um super-dom, por exemplo, no sentido de que, se alguém o recebe de Deus, estará automaticamente imune aos problemas de todos os "meros mortais" ou que seja infalível em tudo que faz ou fala como pastor que é. Um pastor não têm de fingir que não possui problemas. Todos eles são bem humanos em sua essência, mesmo que tenham uma pregação abençoada, um ensino profundo, sejam grandes conselheiros, sejam dotados de muitos outros dons e capacidades espirituais. Tanto o apóstolo Pedro como o apóstolo Paulo eram pastores e sujeitos estavam a muitas fraquezas. Paulo mesmo disse que dependia da graça de Deus sobre sua vida (2Co 12.1-10) e foi assim que ele viveu e ministrou, pleno em fraquezas (2Co 11.23-33) mas cheio do Espírito de Deus. Além de tudo, ele estimava muito a amizade de seus companheiros de ministério bem como dos demais membros das igrejas por onde passava, prova disso são suas palavras de despedida ao final de quase todas suas epístolas onde cita nominalmente alguns desses companheiros e irmãos e percebemos o amor e a afetuosidade de Paulo por todos eles (Rm 16; 1Co 16; Cl 4; 2Tm 4; Tt 3; Fm).  

EU CONCLAMO A TODOS, pastores e não-pastores como eu mesmo, para que reflitamos uma vez mais nas palavras de Paulo que estão registradas em 2Co 6.3-10: "Não dando nós escândalo em coisa alguma para que o nosso ministério não seja censurado; antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo; na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, na ciência, na longanimidade, na benignidade, no Espírito Santo, no amor não fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, à direita e à esquerda, por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama; como enganadores, e sendo verdadeiros; como desconhecidos, mas sendo bem conhecidos; como morrendo, e eis que vivemos; como castigados, e não mortos; como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo." 

NOSSO TEMPO PRESENTE têm testemunhado a queda de muitos pastores. Os pastores que se suicidaram nos EUA nestes últimos trinta dias, infelizmente, mancharam seus nomes e sua memória ao cometerem o desatino do homicídio contra si mesmos. Creio firmemente no poder da autoridade que possui a Palavra de Deus, poderosa em si mesma para conduzir o pastor em sua jornada terrenal, até encontrar naquele grande Dia ao Sumo Pastor, Jesus Cristo. Creio que é possível uma igreja local que seja apegada à Palavra de Deus e tenha entre seus membros, pessoas capacitadas pelo Espírito Santo que, em amor, podem sim ministrar sobre a vida de seu pastor ou pastores. Creio que os recursos para a solução dos problemas que acometem as vidas dos crentes em Cristo e particularmente aqueles que foram chamados para exercer o ministério pastoral, estão todos na Bíblia em seus 66 livros que nos foram outorgados conforme as palavras inspiradas de Pedro: "Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude; pelos quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo" (2Pe 1.3,4). Notemos que o texto diz que DEUS nos deu TUDO o que DIZ RESPEITO À VIDA E PIEDADE por meio do CONHECIMENTO daquele que nos chamou e que ELE NOS TEM DADO GRANDÍSSIMAS E PRECIOSAS PROMESSAS e assim sejamos participantes de SUA NATUREZA DIVINA E ASSIM ESCAPARMOS DA CORRUPÇÃO que há no mundo. TUDO ISTO ESTÁ DISPONÍVEL SOMENTE PELA PALAVRA DE DEUS, A BÍBLIA SAGRADA!

APEGUEMO-NOS POIS firmemente aos mandamentos e às promessas das Escrituras. Os pastores não são super-heróis, é mentira diabólica se imaginarem infalíveis. Não são auto-suficientes e estão carregados de fraquezas como todos os demais. Urge nestes dias pastores fiéis sim, humildes, capacitados espiritual e intelectualmente sim, mas reconhecedores de sua inerente humanidade e fraqueza. É de pastores assim, onde possa repousar a graça de Deus ao qual Paulo se referiu (2Co 12.1-10) de que a Igreja do Senhor precisa.

AMADOS PASTORES, não continuem a  cultivar a imagem de heróis ou auto-suficientes. Reconsiderem sua fraqueza e humanidade. Sejam sábios e humildes em suas vidas e em seus ministérios. Procurem os vasos de Deus que Ele pode levantar para lhes ajudarem, se for o caso. 

VOS CONCLAMO POIS em o nome do Senhor Jesus a que pensem nisso....... 


  















Nenhum comentário:

Postar um comentário