terça-feira, 18 de outubro de 2011

Adorando a Deus coletivamente, reflexões

Continuo lamentando os cultos contemporâneos que levam as pessoas a um frenesi, mas não à verdadeira e salutar adoração ao Senhor.

O aspecto é de um clube noturno. As luzes são apagadas. O som é ensurdecedor. Muitas das letras das canções são de uma pobreza teológica de dar dó. A impressão que se tem é de um programa de auditório, quando o cantor/adorador (?) auto-intitulado "levita" tenta conduzir a congregação em adoração a Deus. Expressões de entusiasmo permeadas de versículos bíblicos, mas que não gera uma verdadeira ambiência de louvor e glorificação ao Senhor de toda a terra.

Os músicos tem uma performance profissional. Tocam muito bem seus instrumentos. O povo ali reunido canta em uníssono. Mas isso por si só não garante que estejam adorando a Deus em espírito e em verdade (Jo 4.24).

Quando declinamos sobre o importante assunto que é a adoração nas igrejas, devemos indagar sobre alguns questionamentos muito válidos. Por exemplo, será que a adoração ao Deus único e verdadeiro, deverá ser feita de uma determinada forma, considerada única e verdadeira?

Outra questão é a liberdade dos adoradores compromete a integridade do Deus único e verdadeiro que adoramos? E também, será verdade que Deus, quando falamos em adoração coletiva, deseja que esta lhe seja oferecida realmente conforme um modelo único, que lhe confira glória e honra, porque isso então não deveria estar claríssimo em Sua revelação?

Mas, o que é adoração?

Segundo William Temple, adoração significa, estimular a consciência pela santidade de Deus; alimentar a mente com a verdade de Deus; purificar a imaginação por meio da beleza de Deus; abrir o coração ao amor de Deus; dedicar a vontade ao propósito de Deus.

Esta é tão somente uma dentre várias outras definições sobre adoração que existem e nenhuma chega a definir de modo tão completo que possa chegar a essa profundidade do encontro entre o Deus Todo-Poderoso, e a coroa de sua criação, o ser humano. Tanto os antigos credos como modernas confissões de fé não chegaram a uma compreensão de base ortodoxa sobre o assunto e muito menos a um método único de adoração que fosse adotado pelos cristãos em todo o mundo. De maneira que, entendemos que o homem tem liberdade em sua adoração a Deus.

Todavia, essa liberdade na adoração muitas vezes fica aquém do que a Bíblia deixa entrever sobre o tema. No AT, Abraão construindo altares, Moisés, com a continuação do altar e dos sacrifícios de forma específica, ou seja, ordenada pelo próprio Deus, Davi, que revoluciona e agora inclui cânticos e designa sacerdotes e levitas para o ministério de adoração e que se perpetuaria no futuro templo a ser construído por Salomão, os israelitas que retornaram do exílio com Esdras e Neemias, todos eles ofereceram a Deus sua adoração, sempre reverenciando ao Deus de Israel, sempre considerando profundamente Sua santidade.

No NT, não se encontra em nenhum de seus 27 livros qualquer descrição completa ou ordem detalhada ou algum estilo divinamente ordenado no que tange ao ato de adorar. Mas encontramos ordenanças no que tange à oração, leitura das Escrituras, pregação, ensino, cânticos, batismo e Ceia do Senhor.

Não encontraremos ordenanças específicas para a igreja de como ela deveria adorar a Deus estando reunida, mas o que se vê é diversidade, é liberdade. A igreja primitiva dava ênfase aos ensinamentos apostólicos e à vida comunal e as igrejas gentílicas seguiam praticamente pelo mesmo trilho.

Mas todas elas e consequentemente toda a Bíblia, valoriza a reverência e o profundo senso da presença divina em seus encontros com Deus. Não há um estilo definido de música a ser usada na adoração congregacional, é verdade, mas a que for usada deve levar a uma profunda reverência e senso da presença d'Aquele que é o Senhor da Igreja.

Alguns cristãos gostam de cultos mais litúrgicos, seja de que tradição for (reformados, anglicanos, batistas, pentecostais). Outros, abrem mão de uma liturgia bem formatada, digamos assim, para uma outra mais aberta, mais "liberada". As canções, as músicas, também são variadas entre os cristãos evangélicos. Enquanto alguns são extremamente apegados aos velhos hinários de suas denominações, outros vão para outro extremo e desprezam totalmente estas canções de louvor a Deus, inclusive muitas letras desses hinos nos proporcionam grandes ensinos teológicos, possuem enorme riqueza doutrinária. Infelizmente, constato que muitas das canções ditas "contemporâneas" tem uma letra paupérrima de conteúdos bíblico-teológicos, sem generalizar, entretanto, nem todas obviamente são assim.

Deus continua a buscar verdadeiros adoradores. Adorar é ser invadido pela shekinah, pela glória de Deus! Portanto, toda nossa vida deve ser dedicada a adorar ao Senhor. Tudo o que fizermos deve ter a marca de um verdadeiro adorador. Mas, no momento que a Igreja se reúne para celebrar seu Senhor e Salvador, ela poderá perder esta santa expectativa de que está adentrando imediatamente na Presença do Pai, porque o culto de adoração descamba para coisas como barulho excessivo dos instrumentos por causa de canções escolhidas de forma errada, por causa das letras muito pobres de conteúdo bíblico, porque o responsável por esse momento, se parece mais com um animador de auditório do que com um autêntico sacerdote ou levita que nos conduz na adoração ao nosso único Deus e Senhor.

Não vou aqui pontificar sobre então no que deveria se constituir um culto de adoração aceitável a Deus. Mas posso dizer que a Bíblia é um livro de princípios. Sendo assim, todos devem procurar em suas páginas os princípios ordenadores no que se refere ao verdadeiro culto.

Se estamos com nossos corações purificados, se reconhecemos o absoluto senhorio de Jesus Cristo em nossas vidas, se compreendemos que temos de ter reverência na comunhão com nosso Deus, se já aprendemos que Ele deseja ser adorado, então estamos com uma boa base para render-Lhe nosso louvor.

Jesus declarou categoricamente: "Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás" (Mt 4.10b). Outra versão utiliza a expressão "só a ele dará culto". Ou seja, servir ao Senhor significa Lhe prestar culto e vice-versa. Para servirmos a Ele, ou cultuá-Lo, notório é que não deve ser de qualquer maneira, visto a Majestade e a grandeza de Quem estamos a adorar.

A adoração deve nos levar a uma transformação. Que quero dizer com isso? Que encontrar-se com Deus na adoração realmente nos transformará porque não podemos pensar em comparecer ao altar do Senhor, se estivermos com alguma questão não resolvida com alguém, por exemplo (Mt 5.23,24).

A adoração também nos leva a uma maior obediência. A adoração pode nos habilitar a ouvir com muita clareza o chamado para o serviço para que respondamos ao Senhor: "Eis-me aqui, envia-me a mim" (Is 6.8).

Cuidemos para que nossa adoração, quer seja coletivamente ou individualmente, não seja algo vulgar, algo temperado com os sabores da pósmodernidade que a tudo relativiza e não considera a verdade absoluta da Palavra de Deus. Não vamos relativizar nosso louvor a Deus e nem deixemos de considerar os princípios que devem nortear a veraz adoração de todo verdadeiro adorador.

Além de tudo, adorar coletivamente deve nos conclarmar a um profundo senso de unidade conforme Jesus declarou em Sua oração sacerdotal em João 17.23: "Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim." Efetivamente, a unidade entre os membros do Corpo de Cristo é algo muito poderoso diante do mundo, Jesus afirma no verso 18 que Ele nos envia ao mundo para sermos Suas testemunhas, porém esse testemunho alcança maior visibilidade e poder se estivermos em unidade.

Recomendo aqui dois livros para ajudarem nessa reflexão Adoração ou Show? Críticas e defesas de seis estilos de culto, Paul Basden (editor) Editora Vida e Celebração da Disciplina, (cap. 11, Adoração) Richard Foster, Editora Vida.

Conclamo todos a lerem e pensarem sobre o assunto, amém!

2 comentários:

  1. Caro Cicero,

    No momento me encontro fazendo exames de saúde, por isso tive que interromper a elaboração da apostila de Homilética, mas assim que retomar a tarefa e concluí-la lhe enviarei uma.

    Esteja orando por mim.

    Pb. Edinei, Th.B

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  2. Ok amado do Senhor, estarei orando pelo seu pronto restabelecimento, que Deus abençoe sua vida e ministério.

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