sexta-feira, 1 de outubro de 2010

As expectativas de um povo e a imprudência de um rei

Lemos na Bíblia Sagrada no Primeiro Livro dos Reis capítulo 12, os eventos que se seguiram após a morte do rei Salomão. Roboão, seu filho e sucessor, vai a Siquém porque todo o Israel estava lá reunido para coroá-lo. Todavia, Jeroboão, antigo desafeto do falecido monarca, volta do exílio no Egito e, juntamente com o povo, indaga a Roboão como ele pretende aliviar a pesada carga de impostos e tributos que seu pai impusera ao povo. Roboão insta que eles voltem às suas casas e que após três dias retornassem.

Os custos elevados para manutenção da corte e para os demais gastos do Estado, estavam pesando sobre os ombros de cada israelita. A ocasião de redução destes encargos era agora propícia visto que o rei Salomão havia morrido e um novo governante estava prestes a subir ao trono real. Desta forma, eles alimentaram a doce expectativa de aliviarem-se daquela dura servidão e pesado jugo (v.4).

O futuro rei Roboão, jovem ainda, procura os anciãos, homens que andaram com seu pai a fim de aconselhar-se. Sabe que não possui o discernimento desenvolvido ainda para as enormes responsabilidades que passará a tomar sobre si. Estes homens aconselham-no com sabedoria, porque também entendiam o quanto sofria o povo com o pagamento dos impostos reais. Eles falaram a Roboão: Se hoje te tornares servo deste povo, e o servires, e lhe responderes boas palavras, eles serão teus servos para sempre” (v.7 – Almeida Séc. 21).

Infelizmente, Roboão, em sua inexperiência juvenil, coração soberbo que já tinha em si os germes do despotismo, despreza o conselho dos antigos amigos de seu pai e procura aqueles jovens que cresceram com ele. Portanto, eram amigos de sua geração e que articulavam os mesmos desejos de dominação e impetuosidade. Estes dizem para que ele aumentasse ainda mais o jugo sobre o povo. Que não amolecesse portanto, mas que mostrasse pulso firme e ferrenho sobre o povo. Na verdade, o coração de Roboão já estava disposto a isto porque recusara o conselho dos antigos antes mesmo de procurar seus próprios amigos. Ele já estava decidido a manter ou aumentar a tributação, apenas foi confirmar isto com seus parceiros, tão insensatos quanto ele.

O homem comum do povo deveria estar pensando que poderia agora ter dias de melhoria econômica para si e sua família. Que o dinheiro destinado aos impostos reais poderia ser destinado à compra de implementos para sua lavoura. Ou a aquisição de algumas cabeças de gado. Ou, a melhoria de suas condições de moradia. Ledo engano. Quando retornaram à presença de Roboão três dias depois, ouvem sua dura resposta: O rei respondeu ao povo asperamente e, deixando o conselho que os anciãos lhe tinham dado, falou-lhes conforme o conselho dos jovens: Meu pai aumentou o vosso jugo, mas eu o aumentarei ainda mais; meu pai vos castigou com açoites, mas eu vos castigarei com escorpiões” (vs 13,14).

O coração do povo foi profundamente magoado com tais palavras. Roboão, filho daquele que dissera: Beijados serão os lábios do que responde com palavras retas” (Pv 24.26), agora dá vazão à sua insensatez e desta forma aniquila as esperanças de um povo, por causa de sua insensibilidade, por não seguir o conselho sábio dos anciãos, ou seja, deveria tornar-se servo do povo. Servir ao invés de ser servido. Tolamente, cai na armadilha da altivez de espírito e da mesquinhez, porque certamente devia ter planejado manter sua corte mais faustosa do que a corte de seu pai e isso só poderia acontecer com o aumento da carga tributária. Os gastos de seu governo deveriam ser sustentados a duras penas pelo povo de Israel.

As consequências de imediato se fazem demonstrar. O país foi dividido. As dez tribos do norte seguem a liderança de Jeroboão (vs 16-20), conforme a palavra profética de Aías (11.26-40). As duas tribos do sul, Judá e Benjamim, permanecem sob o governo de Roboão. Mas tudo isso acontece sob a supervisão divina. Não só pela palavra do profeta Aías a Jeroboão de que este seria rei sobre as dez tribos (11.31), como na proibição que é feita a Roboão através da palavra profética de Semaías: Assim diz o Senhor: Não subireis, nem pelejareis contra vossos irmãos, os filhos de Israel; cada um volte para sua casa, porque eu é que fiz isto. E, obedecendo eles à palavra do Senhor, voltaram como este lhes ordenara” (v.24 – ARA).

Eu é que fiz isto.” Como conjugar os propósitos de Deus com as ações humanas? Acredito que nesta situação está bem delineada a providência divina por meio do agir pecaminoso dos homens. O povo precisava do alívio dos tributos. Certamente, Deus não estava indiferente a este fato. De outro lado, estava um novo monarca que ascendia ao trono e queria manter sua suntuosidade às custas do suor da nação. Mas, recuando um pouco mais no tempo, vemos o que o Senhor falara a Salomão, o que aconteceria com seu reino por causa de sua queda na idolatria. Seu reino seria tirado no dias de seu filho Roboão, (preservando Deus porém uma parte por amor a Davi) e seria dado a seu servo, Jeroboão (11.9-13).

Aprendemos portanto, que todos os acontecimentos humanos não estão fora dos propósitos divinos. Todos os atos humanos tem consequências. Há uma correlação entre o que os homens fazem e entre os planos de Deus. O Senhor tece os fios da tapeçaria de sua Providência nos entremeios dos acontecimentos humanos. É preciso que entendamos isto.

As expectativas de todos nós

A nossa nação está agora exatamente num grande momento de expectativa assim como estavam os israelitas diante da ascenção do novo rei. Estamos no limiar entre o fim de um governo de oito anos e outro que assumirá conforme o resultado das eleições deste domingo, 03 de outubro de 2010. Não sabemos quem será o novo presidente da República. Os resultados das pesquisas apontam um favorito. Mas não sabemos se este será realmente o vencedor do pleito. Nossas esperanças é de que o novo governante-mor da nação possa atender com sabedoria os anseios de todos nós naquilo que realmente constitui-se em aperto, em peso, em encargos excessivos para o povo, principalmente entre os mais pobres.

Esperamos que ele governe com sabedoria. Iluminado pelo Senhor. Que, diferentemente do imprudente Roboão, ele atenda ao sábio conselho que este não seguiu. Que o novo presidente do Brasil seja servo do povo, procurando com sabedoria verificar e atender as expectativas deste, visando o bem estar do conjunto da população, sem favorecimentos a grupos ou a ideias pessoais que não se coadunem com as legítimas aspirações da nação.

Que seja um governo sereno, sem radicalismos. Que seja um governo, que, legitimado nas urnas, possa alavancar ainda mais o progresso e o bem estar de todos os brasileiros. Que não se volte o novo governante para o “conselho dos jovens”, conselho infantil, conselho imprudente e temerário. Possa se pautar pelo conselho dos mais velhos, os mais capacitados, o mais equilibrados, os mais competentes. Ou seja, que seja rodeado de um corpo ministerial que prime pela excelência acima de tudo e que deixe de lado toda ambição pessoal. Que a ambição maior do presidente eleito, de seus ministros (bem como de governadores, senadores, deputados federais e estaduais) seja de colocar acima de tudo, acima de sua própria vida, o bem comum da Nação.

Se for assim, a Providência divina trabalhará conjuntamente, em que pese a maioria não conhecê-Lo, não ter a experiência do novo nascimento em Jesus Cristo (Jo 3.3). Mas, se temerariamente continuarem os desmandos, os interesses pessoais ou de grupos, a injustiça institucionalizada, a não-preocupação pelos necessitados dentre a população, o desinteresse em fomentar o progresso e crescimento do Brasil ou qualquer coisa que impeça que os brasileiros possam crescer, progredir, ainda assim a Providência trabalhará mas o ônus da responsabilidade pelos atos insensatos dos governantes ou de nós mesmos nos será cobrada pelo Senhor. Por sua palavra profética, Jeroboão teria um bom futuro, mas miseravelmente descambou para a idolatria (12.25-33). E o Senhor vaticinou novamente por meio do velho profeta Aías que a casa de Jeroboão seria extirpada e que até o povo de Israel seria ferido porque igualmente entregara-se à abominável adoração de ídolos (14.1-20).

A Igreja do Senhor tem um papel fundamental nestes dias que ora atravessamos. Nossa responsabilidade é marcante, como cidadãos do Reino de Deus, mas também cidadãos de nossa pátria terrena, em eleger o futuro presidente da República e demais governantes. Sejamos sábios. Sejamos prudentes. Analisemos com muito cuidado quem iremos eleger. Nem sempre deveremos ser guiados por preferências pessoais. Creio que é à luz da revelação divina exarada nas páginas da Bíblia e em oração, é que deveremos fazer a análise da vida e da plataforma de cada candidato para então lhe concedermos o voto.

Estamos todos na expectativa. Não queremos governantes insensatos como foi Roboão. Ou idolátricos como foi Jeroboão. Mas se não formos criteriosos nas escolhas, poderão ser exatamente nós, brasileiros, os imprudentes e os idolátricos em nossas decisões. Imprudentes por escolher de forma impensada ou precipitada (sem buscar a face do Senhor) nossos candidatos. Idolátricos por procurar eleger candidatos que, declaradamente, são contrários em suas vidas aos princípios bíblicos (lembre-se da discussão sobre o aborto, sobre o casamento gay, sobre a descriminalização do uso da maconha). Ora, se sabemos que determinado candidato é favorável a essas aberrações ou muitas outras, deveríamos elegê-lo?

Pensemos em tudo isso e que o Senhor tenha misericórdia de todos nós, povo e futuros governantes. Amém.

2 comentários:

  1. Temos que orar. O povo cristão tem que ser mais unido e decidido. Deviamos ter proclamado um momento de oração pela nação, todos juntos e declarar que esta nação pertence a Jesus. Vamos orar.

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  2. Creio que muitos cristãos individualmente ou em suas congregações e ministérios estão intercedendo é o que nós devemos fazer e agir também ao escolhermos os candidatos com sabedoria. Deus abençoe sua vida.

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