quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Quando não nos preocupamos com os famintos e necessitados


O Evangelho de Mateus, cap. 15 vv. 32 a 39 descreve sobre a segunda multiplicação dos pães. Leiamos os versos 32 e 33: "E Jesus, chamando os seus discípulos, disse: Tenho compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias, e não tem o que comer; e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho. E os seus discípulos disseram-lhe: De onde nos viriam, num deserto, tantos pães para saciar a multidão?"

É notável o sentimento de Jesus pelas pessoas. A compaixão do mestre é mais uma vez demonstrada nesta passagem. Sua grande preocupação pelas necessidades básicas dos seres humanos. Alimentar-se, um ato natural e dos mais básicos para o homem, não passa despercebido da atenção e cuidado provedor do Senhor. Este efetivo cuidado de Jesus Cristo, o Filho de Deus, é de igual modo a preocupação de Deus Pai. O próprio Senhor Jesus disse: "Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas os gentios procuram. De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas" (Mt 6.31,32).

O básico e necessário para a vida de todos. Deus promete isto em Sua Palavra. Todo ser humano, homem, mulher, criança, idoso, é alvo do paternal amor divino. Seu caráter benigno, Sua inerente bondade e misericórdia são mostradas diariamente a todos na providencial manutenção do mundo e dos recursos nele existentes (Mt 5.45; Sl 104). E nisso, não há distinção entre aqueles que O servem e os que não O servem. Sua benignidade e notória a todos (Gn 9.1-4).

Na passagem de Mt 15.33 que é a base desta nossa reflexão, os discípulos de Jesus indagaram-no sobre de onde poderia vir tanto alimento para aquela multidão. O texto diz que eram quatro mil, somente homens, além de mulheres e crianças (v.38), ou seja, poderia haver ali entre quatro e sete mil pessoas. O texto diz que "todos comeram e se saciaram" (v.37) e, além disso, daqueles originais sete pães e alguns peixinhos (v.34) sobraram sete cestos cheios de pedaços (v.37).

Não deveria a Igreja de Cristo sobre a terra, a igreja militante, refletir acerca desse episódio? Aquela já era a segunda multiplicação de alimentos que Jesus fizera. Ele estava demonstrando aos Seus discípulos na prática o que de fato era importante, aquilo que deveriam prestar a máxima consideração. As pessoas e suas mazelas. Jesus havia curado coxos, cegos, mudos, aleijados e muitos outros (v.30). Nos versos antecedentes, libertara a filha de uma mulher estrangeira dos demônios que a possuíam (vv.21-28). Atendimento individualizado, pois. Em seguida, passa a ministrar à multidão. E depois, ainda provê o mantimento necessário ao corpo, pois estavam com o Senhor há três dias, já não tinham o que comer e, em jejum, poderiam desfalecer pelo caminho, após serem despedidos por Jesus, como Ele próprio mencionara (v.32).

Às vezes penso que a igreja cristã, em seu afã de sucesso e prosperidade, em realizar mega-eventos, em propor um evangelho de brilho e "notoriedade", justamente aí perde toda sua força, a força que provém da prática do verdadeiro Evangelho, vivido por Jesus Cristo em Seu glorioso ministério terreno e ensinado aos Seus discípulos. Quando não nos preocupamos com os famintos e necessitados, somos irrelevantes para o Reino de Deus, que é maior do que a igreja cristã, posto que esta é somente uma agência do Reino.

Pregar o Evangelho de Cristo e praticá-lo diuturnamente por todos individualmente e também na coletividade do Corpo de Cristo, realmente constitui-se em um grande desafio. Mas o Dono da Igreja ordenou que vivêssemos em plena dependência d'Ele (Jo 15.4, 5). Como bem frisa o Senhor neste texto, se estivermos de fato n'Ele, daremos muito fruto. Fora d'Ele nada poderemos fazer. Até tentaremos, mas será inútil.

A irrelevância é a tônica em muitos segmentos do Corpo de Cristo. O texto do apóstolo Paulo em 1Co 12.4-7 diz: "Ora, há DIVERSIDADE DE DONS, mas o Espírito é o mesmo. E há DIVERSIDADE DE MINISTÉRIOS, mas o Senhor é o mesmo. E há DIVERSIDADE DE OPERAÇÕES, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos." Que coisa fantástica vemos aqui. DONS, MINISTÉRIOS E OPERAÇÕES e tudo isto com DIVERSIDADE, sendo O MESMO DEUS QUE OPERA TUDO EM TODOS!

Acredito que, por meio deste e de outros textos, que o Senhor gabaritou Sua Igreja para muito bem representá-lo neste mundo. Para dar um testemunho do Evangelho e isto com o mais elevado padrão e com o "dunamis", o poder do Espírito Santo (Rm 1.16). Assim, é que lamentamos profundamente não só as várias divisões que acometem o Corpo, mas igualmente aqueles que propagam um "outro evangelho" (Gl 1.6-8) que serve somente para sinalizar a irrelevância de seus proponentes. São, na verdade, "sal sem sabor", insípidos e que servem somente para serem pisoteados pelos homens, o que na verdade está acontecendo (Mt 5.13).

Mais do que nunca, o crente individualmente e a Igreja enquanto Corpo de Cristo, deverá expressar plenamente o que Jesus ensinou e praticou. É hora de voltarmos à essência do Evangelho. É certo que muitos já vivem desta maneira, mas é necessário multiplicar o número de discípulos que repudiam a prática de um evangelho de comodidades, mundano, materialista, surreal e miseravelmente irrelevante. Não liberta, não cura e não alimenta as almas e corpos dos homens.

É tempo de pensar nisto. Antes que seja muito tarde.

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