domingo, 13 de junho de 2010

No país das vuvuzelas

A Copa do Mundo de Futebol 2010 na África do Sul começou nesta sexta feira, 11 de junho. Milhões de pessoas pelo mundo todo estarão durante 30 dias acompanhando a saga das 32 seleções e torcendo muito para que sua seleção seja a campeã. Pela primeira vez o torneio de futebol mais famoso do planeta será sediado no continente africano. À África do Sul coube o privilégio de ser a anfitriã, o país que é o mais rico e desenvolvido do continente.

Todavia, devemos refletir um pouco sobre esta jovem nação, que recentemente deixou para trás uma amarga experiência de segregação racial, o famigerado apartheid (palavra que significa separação em africâner, língua criada pelos colonizadores), e procura superar outros desafios também igualmente opressores assim como era o racismo de estado. A África do Sul, como dissemos, é o país mais rico do continente africano, sendo que detém o maior Produto Interno Bruto (PIB) dentre os outros 52 estados africanos. É o principal produtor mundial de ouro e um dos líderes na extração de diamantes. É muito importante também o turismo, tendo como grande atrativo, as reservas de animais selvagens.

É motivo de admiração mundial, a luta levada a cabo por Nelson Mandela, que ficou 28 anos encarcerado por liderar seus compatriotas negros numa campanha contra o governo da minoria branca racista. Eleito presidente em 1991, primeiro presidente negro da África do Sul (de maio de 1991 a junho de 2000), Mandela ganhou respeito internacional por sua luta em prol da reconciliação interna e externa. Alguns radicais ficaram desapontados com os rumos de seu governo, principalmente por causa da ineficácia do governo em conter a crise de disseminação da AIDS.

Segundo relatórios da ONU, a África do Sul é o país que tem o maior número de pessoas do mundo vivendo com o HIV. Cerca de 20% dos adultos estão infectados. O país tem milhares de crianças órfãs. É lamentável este estado de calamidade pública na saúde dos sul-africanos. O país que marcou a história da medicina ao realizar o primeiro transplante de coração, em 1967, tenta desesperadamente conter a doença. A AIDS atinge principalmente a população negra e pobre, e ameaça chacoalhar a economia do país. Em cada grupo de dez pessoas contaminadas no mundo no ano passado, uma era sul-africana. Segundo a revista Forum, edição on-line de 20/02/2008, no dia 5 de novembro de 2007, cerca de 3 mil pessoas protestavam na cidade de Upington, ao norte da Cidade do Cabo, na África do Sul. O alvo da ira dos manifestantes eram seis homens que haviam estuprado uma menina de apenas 9 meses de idade. Seria somente um crime bárbaro não fosse o fato motivador. Os criminosos acreditavam que mantendo relações sexuais com uma virgem estariam protegidos do vírus HIV, causador da Aids. Mas esse não é um caso isolado. Em Soweto, outra cidade sul-africana, o ifoli (estupro praticado por vários homens simultaneamente) se tornou algo comum. Temeroso de contrair a doença ou de já estar com ela, um rapaz chama seus amigos para violentar uma garota, que às vezes é a própria namorada. A menina geralmente sai dessa experiência grávida ou com o HIV. Graças a essa prática, a África do Sul tornou-se o país com maior índice de estupros do mundo.

Aliás, a questão da AIDS castiga as demais nações africanas, principalmente na África subsaariana. Países como Moçambique, Zimbábue, Uganda, Zâmbia, Botsuana, Nigéria, e outros, convivem com números elevados de pessoas contaminadas por este flagelo. A falta de estrutura médica, segundo a revista Forum, contribui para que a epidemia se alastre. Em Moçambique há pouco mais de 700 médicos para uma população acima de 18 milhões de habitantes, o que torna o atendimento hospitalar um luxo. "Apenas a elite consegue obter antivirais comprados na África do Sul", revela o virologista brasileiro Amílcar Tanuri. Só agora começa a se controlar parte do estoque dos bancos de sangue do país. O de Maputo, capital de Moçambique, possui 13% de seu estoque de sangue contaminado. "O pior de tudo é que o número de transfusões é alto, já que a malária acaba fazendo com que muitas pessoas tenham que receber sangue", explica o virologista.

Todas estas informações tem uma intenção: fazer com que cada crente em Jesus Cristo se conscientize da tragédia humana que se abate de forma massacrante sobre a maior parte não só dos sul-africanos, mas também sobre a maior parte da população negra africana. A pobreza da maior parte da população agrava sobremaneira qualquer doença que grasse entre as pessoas. A instabilidade política, a opressão sobre o povo, o número de campos de refugiados tem aumentado grandemente. Guerras entre facções rivais acontecem diuturnamente e parecem não ter fim.

O país das vuvuzelas, África do Sul, vive dias de alegria por causa do esporte. Mas é necessário que estejamos acautelados porque a mídia passa uma imagem que pode induzir a pensarmos que tudo vai bem, que apaziguadas as opressões do racismo, o que temos é uma população alegre, festeira (como nós, brasileiros) e por isso, e somente por isso, os problemas ficam fáceis de serem contornados. De forma alguma, este simplismo não pode ser parte de nossa mentalidade como servos de Jesus Cristo. A complexidade da pobreza, dos problemas de saúde e outros semelhantes, sabemos todos que é por causa do pecado, pelo fato de que muitos ainda não conhecem a Jesus Cristo como Único e Suficiente Salvador.

O apóstolo Tiago diz: A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tg 5.16b). Devemos orar. Devemos interceder. E devemos mais ainda, devemos enviar missionários. A África como um todo, é um grandioso campo missionário. Alegramo-nos com o privilégio do povo sul-africano em receber a Copa do Mundo em seu país. Mas não devemos esquecer os graves problemas pelos quais tem passado, assim como os outros países deste belo continente. A Igreja não pode ser conformista, já tem feito mas ainda há muito ainda por fazer em prol da salvação de todos os africanos. Lembremo-nos de David Livingstone, por exemplo, que desenvolveu um glorioso ministério de missões entre as tribos africanas selvagens no século 19. Sua vida é um exemplo, neste tempo de relativo comodismo entre muitos cristãos.

Pense nisto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário